domingo, 7 de março de 2010

DOGMÁTICA

Esta luz que de pronto se desfaz,
Este som brevíssimo e cristalino,
Esta serenidade que é capaz
De me fazer olhar o olhar divino
Não me tornam sequer menos ateu.

Eis a fé mínima por que eu morria:
Creio no deus fugaz que é um olhar teu.
Na forma invisível da melodia.
No cego deus à solta que é um riso.
No deus qualquer coisa mortal e esguia
Que é, sobre a dor que, eterna, cicatrizo,
Este lamber de sol na manhã fria.

Às vezes, no meu corpo, concretizo
O pudico fulgor de um certo dia.
E sobre a dor que, eterna, cicatrizo
Perpassa a breve divina alegria

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