terça-feira, 19 de maio de 2009

ode a uma alma estática

eis uma alma que nunca se apressa:
demora, calcula, como é próprio de almas terrenas.
tem na paciência do cálculo a sua mestria,
rara virtude entre as bravas breves aves do nosso tempo;
tem na prudência a antena da sua sabedoria,
rara virtude em tempo de aguerridos guerreiros leões
cujo saber
é músculos, é guerras, é garras, é dentes.

eis uma alma que não ganha balanço:
aventura-se pelo mundo sem sair do mesmo ponto.
só na fuga é rápida: e mesmo aí, escapa sem ao menos se deslocar,
fugindo para o centro do mesmo ponto, para sobre si mesma.

a troça dos leões, como viquingues da selva,
a troça das águias, no seu ascender sobranceiro,
a troça dos grandes descobridores
de mundos que existiam já sem o serem ainda,
a troça de santos mártires incapazes de troçar,
a troça toda de todos eles
quase não pode afectar uma alma assim:

em vez de responder, em vez de usar em vão da sua energia,
dobra-se mais para o mesmo ponto: para dentro de si.

os viquingues nunca duram:
deixá-los troçar. deixa-os ir.

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