quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

num ponto algures

tal como o homem que, de pé, só,
subitamente se desencontra
num quarto silencioso-escuro,
porque em nada ao redor vê ou ouve
mais que o tempo
[esse mero egotar-se: o tempo],
e o tempo não tem norte não tem sul
não tem este, oeste, sudeste ou noroeste;
e o homem não sabe já onde está a porta
por onde entrou,
ou a janela,
ou a cama nem a mesa-de-cabeceira,
e qualquer direcção que tome é uma aventura,

também assim agora eu
erro na minha existência:
tudo se me tornou tempo em torno.
só a cadência cardíaca me orienta,
só a tontura de uma intenção alta,
só uma única certeza: a arbitrariedade dos passos
que tomo:

não há rosa-dos-ventos num quarto escuro.

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