terça-feira, 21 de dezembro de 2010

cultiva-se a memória

cultiva-se a memória da mesma forma
que um doente de óculos cultiva a sua obsessão predilecta.

quando fui outro,
aquele outro cuja memória herdei,
perdia-me todos os dias num matagal onde serpentes havia.
precipitava-me, qual cascata,
até um rio e pelo rio adentro,
e nadava como se fosse água na água. hoje não sei nadar.

mas, não sabendo nadar, nado ainda assim sob esses dois modos:
no diáfano da fantasia, em que me sou outro,
e na solidez da memória, que me revive um outro outro.

e tais modos cultivo, como um obsessivo de óculos.

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