terça-feira, 23 de junho de 2009

o inferno subtil

«[...] e portanto, a existência do fado torna-se uma prova indiscutível da existência do Inferno, que é sempre um inferno pessoal.»
Gil Duarte, De que o Céu Pode Não Existir, Mas o Inferno Existe




bem-vindos vós todos, bem-vindos, pecadores,
ao lugar onde ninguém é senhor nem servo.
não tropeceis. não inventeis pequenas dores.
persista só o mal que aqui vos eu reservo.

cuidado, não vos distraiais, não tropeceis.
é que há uns degraus. embora não haja lume
nem lei: a única lei é não haver leis
que não sejam as leis da culpa e do ciúme.

não espereis um mal que não sofrêsseis outrora
ou um que não tivésseis feito já sofrer.
o mal nunca é novo. mas, aqui, demora:
aqui não tem cura nem se pode esquecer.

olhai bem que não tenho chifres ou tridente
nem tenho cauda nem enxofre nem negrume;
e a isto tudo se resume: eternamente
a tortura eterna da culpa e do ciúme.

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