sexta-feira, 19 de junho de 2009

CULPOGRAFIA

quem é o velho que vagueia
por corredores infinitos
da memória, dorida veia
onde vivem mortos e gritos?

quem será pois este que assombra
os labirintos da tristeza:
este espírito ou esta sombra,
a culpa em cinza; e sempre acesa?

quem é este que se demora
onde o não podemos achar,
dor que na cave de nós mora
e ninguém sabe exorcizar?

a figura esguia de um grito,
quem será?
o mal que se tornou um rito,
de onde vem?
esta culpa feroz e má
revolve em nome de quem?

nós somos culpados de já
não ter mais lágrimas em flor
nem te orar por alma. mas se há,
acaso, medida da dor,

a nossa dor ultrapassou-a,
voz do tamanho do vazio,
passado que rasteja, à toa,
para baixo do chão sombrio
onde o teu corpo se esboroa
sob esse musgo velho e frio.

é verdade: já não oramos.
já quase nem saudades temos.

é verdade: já não choramos.

é aceitável: já morremos.

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