sábado, 30 de janeiro de 2010

subtração

eis o morro onde me demoro muito depressa,
e me desuno
e me subtraio: não há maior traição
que subtrair-se a si próprio.

acordava às seis horas da manhã.
abria os olhos
e uma desesperada gravidade
tratava imediatamente de me cercar, me sorver:
cercava-me.

esta é a estrada por onde vou
e me demoro muito depressa.
às seis horas da manhã, todos os dias, recomeço,
todos os dias,
neste morro, nesta estrada que me espera.

e nesta demora me desuno.
vagarosamente depressa de mais.

sábado, 2 de janeiro de 2010

AS ARANHAS SÚBITAS

na geografia de contrariedades onde vivo,
quando o meu passo, deseducado, se faz desadequado
e tropeço,
tenho de cair com vagar e precaução,

porque atrás de portas mal fechadas
sobrevivem, como aranhas mal dormindo,
as emoções antigas, todos os passados inesgotados.

e há um rumor atroz
atrás
de cada amor;

e o que temo não é a velhice de antigos rumores
aracnídeos,

o que temo é a paciente juventude
das subtis aranhas súbitas