quinta-feira, 30 de julho de 2009

À Falta de Outro Nome, Alegria

Olha a mim:
Mas olha-me com a infalível finura do perigo,
se não eu não te vejo:
Se não, eu mais não te vejo mais do que pensar-te muito,
Que é ver-te quase mesmo, mas sem te ver mesmo.

Olha-me num olhar que não repita nenhum outro,
Que me sobressalte e, depois,
Dá-me só um inócuo minúsculo franzir de tempo
Para que eu serene fundo

(
Ah, és tu),

Antes de iniciar esta alegria sem nome
(Chamemos-lhe, pois, alegria),
Esta outra entoação da alma, esta emanação da alma:
Ah, és tu!,
Que ocorre ao devolver-te
O meu olhar no teu olhar.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

limite

nenhuma luz de nenhuma frase,
nenhum pouco desse sentido que as palavras emitem
perfura mais longe do que o terceiro degrau da mente:

não há já palavras nem frases no quarto degrau,
não sobrevivem aí plantas verbalinas;
muito menos no quinto degrau
ou do quinto degrau abaixo,
aí para onde nem freud ou nietzche ou vasco da gama,
no dia cada um deles em que fugiu de casa,
foram capazes de querer sequer olhar.

(esses nunca desceram mais do que aonde chega o elevador...)

e o sétimo degrau é já a respiração do mal,
a obscura tensão que apavora os adamastores
e onde nada perdura,

onde há só o mais cego, silencioso
e inumano
dos animais:

onde há só o homem.






sexta-feira, 10 de julho de 2009

BREVE TARDIO MESTRE


A Nuno Morais


como te houve tempo para seres tudo o que devias ser
nesse teu clarão de infinito,
esse perfeito voo capturado em pleno voo
que foi o tempo breve e trágico que te houve.